Deusa das Águas. Rainha do Mar. Yemanja, Iemanja, Yemoja, Iemoja. Os nomes podem ser muitos para designá-la, mas no fim das contas transparentes dos que a trazem no pescoço, Yemanjá traz o sentido essencial de quem é na expressão Iorubá: "A mãe cujos filhos são peixes".
Antecedendo as comemorações em sua homenagem no 2 de Fevereiro, o Mar Bahia reuniu algumas curiosidades em torno da data que, de acordo com os principais registros históricos, surgiu em 1924, quando pescadores da região do Rio Vermelho, então uma pequena enseada, resolveram oferecer presentes a Yemanjá, em razão da enorme escassez de peixes vivida por eles. Segundo os primeiros relatos, a primeira oferenda reunia apenas bonecas, enfeites e perfumes dentro de uma caixa de papelão, onde jangadeiros e saveiristas depositaram sua fé, iniciando um ritual que está prestes a completar 100 anos.
A escultura de Iemanjá localizada em frente à Casa do Peso foi confeccionada por Manoel Bonfim em 1970. Trata-se de uma escultura de uma sereia feita de gesso, assentada sobre pedestal de concreto revestido com apliques variados, conchas e pedras portuguesas. É de propriedade da Colônia de Pesca Z-1.
O Buraco de Yayá
Com o presente posto, estava também de volta a fartura dos peixes. Nos anos seguintes, as oferendas foram mantidas - sempre na mesma data e cada vez mais elaborados. Como a maior parte dos pescadores tinham descendência e religião africana, uma mãe de santo conhecida como Julia Bugã comandou os trabalhos das demais oferendas, iniciando outra tradição: a do Presente Principal oferecido a Yemanjá, em torno do qual estão cercados alguns mistérios. O maior deles, no local onde é afundado, que permanece o mesmo desde o primeiro presente.
“Na época, os pescadores chamavam o local de “Buraquinho de Yayá”. O “buraquinho”, por outros chamado de “Loca da Sereia”, fica a cerca de 7km da costa e 40m de profundidade. Lá é proibida a atividade de mergulho oficial, mas alguns mergulhadores autorizados afirmam que nasceu um lindo coral, com uma rica fauna marinha”, declara Marcos Santos Souza, mais conhecido como Branco, e presidente da Colônia Z-1, desde setembro de 2009.
O Barco
Quem acompanha a procissão do 2 de fevereiro no mar sabe que a embarcação responsável por levar o Presente Principal e os muitos balaios oferecidos pela multidão que faz uma fila interminável em frente à Casa de Yemanjá, é o barco “Rio Vermelho”. E o presidente da Colônia esclarece: “O presente sempre vai neste barco, pois é uma das mais antigas embarcações daqui, e por isso, é o barco oficial que leva os presentes. Não tem por quê mudar”.
O Presente
A escolha do presente principal é feita através de uma comissão entre a ialorixá, o presidente da colônia e outros representantes. O presente demora cerca de um mês para ficar pronto. O curioso é que os pescadores da colônia não participam diretamente desta escolha. “É feita uma assembleia e decidimos qual será a temática do presente. Coincidentemente, este ano, a Mãe Jacira, Terreiro de Ilê Axé Jibayê, e que faz o presente desde 2016, fez uma sugestão que foi aceita imediatamente por todos nós”, declara Branco.
Receba
Em 2017, logo após a Festa de Yemanjá, uma notícia chamou atenção de quem acompanha o 2 de fevereiro. É que o balaio oferecido pelos pescadores da Z-1 teria sido devolvido pela Rainha do Mar, indo parar em Amaralina – notícia contestada veementemente por Marcos Souza, o Branco. Além da Colônia de Pesca do Rio Vermelho existe cerca de outros dez núcleos, onde cada um faz a sua festa e oferenda a Yemanjá, em um determinado dia e não apenas no 2 de fevereiro. Quanto ao presente, segredo absoluto. Só no dia.
“O presente que disseram que foi devolvido no ano passado não passa de fake news. Nenhum presente nosso jamais foi devolvido. Até porque com tanto peso e as correntes marítimas, isso seria quase impossível” (Marcos Souza, presidente da Colônia Z-1)
Fotos: Mar Bahia
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