Uma paulista que mora na Bahia há mais de 20 anos, é engenheira química e se divide
entre os treinos e o amor pelos dois filhos. Sim, ela poderia ser apenas mais uma pessoa comum, que cruza com a gente diariamente pelo Porto da Barra, mas...para quem só queria contar boas histórias, tem ido cada vez mais longe, quebrando recordes e inspirando homens e mulheres comuns a saírem do sofá e viver as potencialidades de seus sonhos.
Em sua primeira entrevista do ano, o Mar Bahia conversou com a nadadora Alessandra Melo, a Leca, ultramaratonista de águas abertas, que com 49 anos, estabeleceu em janeiro de 2024, mais um feito ao completar os 60km da Travessia Salvador - Morro de São Paulo, em 23h,20min e 22seg. Mas, os recordes não param por aí. Confira o nosso bate-papo.
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MAR BAHIA - O ano mal começou e você já conseguiu realizar o incrível feito de ser a primeira mulher a concluir – a nado – uma travessia de 60km entre salvador e morro de São Paulo. Fale um pouco como e quando nasceu esse projeto, além do seu objetivo com esta conquista.
ALESSANDRA MELO – Sempre nadei desde cedo, aprendi a nadar antes de nadar. Quando me mudei para Salvador, eu conheci o mar e comecei a nadar no mar, com o objetivo de fazer o circuito da Federação Baiana de Desportos Aquáticos (FBDA) para me classificar e pontuar para a tradicional prova de Mar Grande - Salvador (12km). Então, todo esse período de vir morar em Salvador, em 2003, até 2019 foi de me preparar para esse contexto, até consegui realizar esse objetivo. No dia seguinte da prova, as condições de mar eram muito ruins, completamente diferentes do dia anterior, mas eu gostei da experiência. Então, decidi que nadaria longas distâncias, pesquisando sobre ultramaratonas (nadar acima de 15km) em desafios pessoais ou provas competitivas. Depois disso, conheci o pessoal da B.O.A.S.S.A , que homologa trechos de ultramaratona no litoral de Salvador.
De cara, me interessei pelo Desafio dos Três Faróis, que é nadar de Itapoan, passando pelo Farol da Barra até o Farol de Humaitá, em um percurso de 36km. Foi necessário todo um preparo e uma super equipe para construir esse perfil de ultramaratonista. Em 2021, eu consegui concluir essa prova em 10h01m. Eu gostei tanto da experiência, que quis dobrar a distância, exatamente a distância entre Salvador e Morro de São Paulo, que é um desafio muito maior, em mar aberto. Treinei dois anos e consegui em janeiro de 2024. E te juro, o meu maior objetivo é ter histórias incríveis para contar para meus filhos e meus netos (Risos)!
MB – A Travessia, obviamente, não foi fácil. Quais foram as suas principais dificuldades e como você se preparou para enfrentá-las?
AM – Foram dois anos de treinos duros e condições muito adversas, sobretudo à noite. Em 2023, por exemplo, eu treinava 24h em uma piscina de 25m, fazia 42km no mar, inclusive à noite, então, me preparei muito para isso, até que a noite virou uma zona de conforto. No dia da travessia, larguei do Porto da Barra às 9h, com condições difíceis, mas com vento e uma corrente favorável e um ritmo muito bom, até que depois de 10h de prova, fui muito queimada por caravelas pelo corpo todo, tendo uma reação alérgica instantânea, vomitando por 1h30. Foi a primeira vez que vomitei nadando e com muita dor! A partir daí, usei a estratégia da minha fé. Das 19h até às 8h20, quando pisei em Morro de São Paulo, eu repetia para mim mesma: “Tudo posso naquele que me fortalece! ”
Essa foi a forma que encontrei de transformar dor em amor, hidratando, tentando não vomitar mais e seguindo em frente. Então, os treinos duros valeram a pena porque fizeram a diferença.
MB – Além da Travessia Salvador-Morro de São Paulo, você também foi a primeira mulher a fazer os três faróis (Farol de Itapuã, Farol da Barra e Farol de Monte Serrat), a Travessia Madre de Deus - Porto da Barra e o trajeto Porto da Barra-Paripe-Porto da Barra. Quando e em quanto tempo você chegou a essas incríveis marcas e o que a motiva?
AM - Sim! Nadei os três faróis. Em 2021, o trecho Farol de Itapoan-Farol da Barra- Farol de Humaitá em 10h01m. Em 2022, nadei na Travessia Madre de Deus- Porto da Barra, com 30km em 6h26m, além de Porto da Barra-Paripe-Porto da Barra, com 42km em 16h30m. E de verdade, o meu propósito sempre foi contar boas histórias para os meus netos. Nunca quis inspirar nem influenciar ninguém. Por isso, nem nos meus sonhos mais espetaculares eu imaginei estar vivendo tudo isso, com essa proporção. É tudo muito emocionante e gratificante, porque além de ter as boas histórias que eu queria, consigo motivar outras pessoas a levantar do sofá e viver de uma forma mais saudável. Com isso, eu estou transbordando de felicidade!
MB – Fale um pouco sobre ser ultramaratonista. O que você faz, qual a sua rotina?
AM – Eu não sou nadadora profissional, sou uma atleta ultramaratonista amadora. Eu sou engenheira química, trabalho no Polo Petroquímico há mais de dez anos, cuido dos meus filhos, e a minha rotina é acordas às 4h45 para trabalhar até o fim da tarde, e depois de mais alguns afazeres, nado de terça a sexta à noite e no mar aos sábados e domingos, além de ozonoterapia e terapia mental, além de fortalecimento em uma clínica de pilates. Segunda-feira é o meu day off total. Existe uma disciplina muito grande para tudo isso, mas eu sou muito disciplinada. E se não der para treinar, eu não me culpo. O meu foco são os meus filhos e o meu trabalho, estando presente no agora.
MB – A sua naturalidade é de São Paulo. Como veio para a Bahia e qual a sua relação com nossas águas, desde então.
AM – Faz 21 anos que moro aqui, onde tive meus filhos e me estabeleci no mercado de trabalho, acompanhando meu marido. Apesar de estarmos separados, não penso em voltar para São Paulo. Quando cheguei aqui em 2003 fui nadar no mar pela primeira vez e me apaixonei. Depois disso eu nunca mais nadei em piscina a não ser para treinar. Salvador é belíssima, então, essa conexão com deus e a natureza é a minha vida – através do mar.
MB – Impossível não falar em mais desafios. Quais serão os próximos?
AM – Meu desejo de próximo desafio é nadar o Seven Ocean (7 Oceanos), que é uma das sete provas mais duras do planeta, todas elas fora do Brasil e em águas geladas, então os treinos começarão do zero para estas condições específicas. Mas, todas essas sete provas tem listas de espera de dois anos; isso para se inscrever, além do pagamento de uma taxa de cerca de R$12mil. Por isso, estou em busca de patrocínio para treinar e conseguir realizar esse sonho.
Principais Conquistas:
Primeira mulher a completar:
3 Faróis
34km | 10h | 21.11.21
Madre de Deus - Porto da Barra
30km | 6h23 | 11.09.22
Porto - Paripe - Porto
42km | 16h30 | 02.12.23
Principais Travessias Realizadas:
Mar Grande - Salvador | 12km Campeã Master Fem
Mar Grande - Salvador | 12km Noturna
Mar Grande - Salvador | 12km Guia de atleta PCD
Travessia da Sereia (Buraquinho - Rua K) | 14km
Ultramaratona Itaparica - Mutá | 16km
Travessia Paripe - Porto | 23km Diurna e Noturna
Travessia Dois Faróis | 23km
Mar Grande Salvador Ida e Volta | 24km
Travessia Madre De Deus - Porto da Barra | 30km
Travessia Três Faróis | 36km
Porto Paripe Porto | 42km
24h em Piscina 25m | 56km
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