Cruzar os mares em um veleiro pode parecer um objetivo sem sentido para quem apenas deseja chegar do outro lado, mas foi com esse propósito que Max Fercondini tomou a ousada decisão que mudou a sua vida: viver a bordo em uma expedição que gerou o livro "Mar Calmo Não Faz Bom Marinheiro". Esta semana, Max desembarcou na Bahia para não apenas realizar o lançamento da publicação, mas participar pela primeira vez, de um dos maiores eventos náuticos do país - a Regata Aratu-Maragojipe.
O Mar Bahia bateu um papo com o ator, piloto de aviões e velejador, que contou mais sobre a influência do mar em sua vida e em seus novos projetos. Confira.
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MAR BAHIA - Ator, piloto de avião, de motorhome, velejador...Com apenas 36 anos, sua vida já parece uma grande novela (rs). Fale um pouco sobre esse espírito aventureiro que já te fez conhecer tantos lugares e viver tantas experiências pelo mundo.
MAX FERCONDINI - Realmente parece uma grande novela! Inclusive, eu costumo dizer que estou vivendo o personagem mais interessante da minha carreira, que é o meu personagem, o Max, que vai atrás dos seus sonhos, projeta seus próximos passos e expedições, por isso, eu estou muito feliz. Tudo começou quando eu decidi colocar os meus projetos pessoais à frente dos profissionais. Eu tive a rescisão do meu contrato como ator em 2014, que foi quando comecei a minha primeira expedição aérea, sobrevoando o Brasil e tendo experiências com tribos indígenas, comunidades quilombolas, ribeirinhos...foi bem bacana; sobrevoei Amazônia, Pantanal, os cerrados, os pampas...foi bem legal.
Depois, eu segui na expedição "América do Sul sobre Rodas" e aí passei por outras coisas inusitadas também, que são dignas de filme ou novela (Risos)! Eu dirigi 21mil km pelas estradas da América do Sul, passando por Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Equador e Colômbia. Neste projeto, caminhei sobre geleiras, ajudei a escalar um fóssil de um dinossauro de 90 milhões de anos, escalei um dos vulcões mais ativos da América Latina, que é o vulcão Vila Rica, no Chile, tive no deserto do Atacama e uma série de lugares bem especiais.
Então, depois do céu e da terra, pensei que era hora da próxima expedição; dessa vez, pelo mar. Foi quando eu decidi que ia viver a bordo. Nunca imaginei que fosse ficar tanto tempo nessa vida; imaginei passar no máximo dois anos, mas já faz cinco anos que eu vivo no meu veleiro em Portugal. Agora o meu próximo passo é voltar ao Mediterrâneo e navegar até a Turquia, gravando meus programas para compartilhar com as pessoas que não tem oportunidade de fazer o que eu faço. Esse projeto é o "Sobre as Ondas".
MB - Como o mar entrou em sua vida e o que motivou a desbravar o mundo e morar em um veleiro?
MF - Eu nunca pensei que eu fosse seguir com esse estilo de vida a bordo porque fui criado no interior, depois fui para o Rio de Janeiro, me encantei com o mar, minha primeira carteira foi de Arrais em 2011 e comecei a fazer a expedição pelo mar e depois tirei a habilitação de Mestre e Yacht Master (já que o meu barco tem bandeira espanhola). Nesses cinco anos tive algumas oportunidades incríveis, velejando pela Córsega, Sardenha, Ilhas Baleares, Caribe, Ilhas Canárias, Açores, Estreito de Gibraltar, costa da França, completando mais de 20 mil milhas navegadas em três travessias oceânicas.
MB - Depois de "América do Sul sobre Rodas: Relatos, Guias e Dicas", você está lançando este ano o seu segundo livro: “Mar calmo não faz bom marinheiro”. Fale um pouco sobre o Max presente em cada um deles.
MF - Sim, no "América do Sul sobre Rodas" conto sobre a expedição onde dirigi uma "casa sobre rodas". Já em "Mar Calmo Não Faz Bom Marinheiro", eu falo muito mais sobre a minha intimidade, os motivos que me levaram a seguir nessa vida de aventuras, saindo da minha zona de conforto e objetivei realizar os meus projetos pessoais. Tudo isso de forma bem transparente, falando sobre tudo que passei até chegar nesse momento. O livro é uma auto biografia e eu tenho tido um feedback bem positivo sobre a narrativa, com algumas frases emblemáticas, como "De repente percebi que a vida pode ser resumida a uma gota no oceano, mas só quem conhece a profundidade do mar, sabe que a resposta não está na superfície". É um livro bastante pessoal e interessante, do ponto de vista dos lugares em que eu passei; eu conto sobre as grandes navegações, personagens históricos, a mística escola de Sagres, batalhas, piratas e outras histórias que aconteceram no Mediterrâneo.
MB - A sua atual expedição, “Sobre Ondas” traz uma série de registros audiovisuais da sua navegação pelo Mediterrâneo. Qual o objetivo desse projeto e como o público pode acompanhá-lo.
MF - O objetivo é fechar essa trilogia, reunindo esses três elementos: ar, terra e água. A minha ideia sempre é compartilhar as coisas que acontecem por onde eu passo, sendo o olhar das pessoas nesses lugares. No ano que vem retomo o projeto (que deu uma parada devido a pandemia), seguindo pelos Açores e Estreito de Gibraltar para contar um pouco da história, arquitetura e gastronomia desses lugares.
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MB - Viver a bordo por cinco anos e mais de 20 mil milhas navegadas trouxe muitas e novas experiências para você. Pode dar um spoiler (rs) de alguns momentos marcantes que o leitor poderá encontrar em seu livro?
MF - O livro está repleto dessas experiências e eu tive a grata surpresa de usar esse título no livro, porque expressa bem as dificuldades pelas quais eu passei, tanto antes, como durante o projeto. O diário de bordo, por exemplo, da primeira travessia está todo no livro, em um bônus que eu coloquei, falando sobre esse dia a dia, em um relato bastante detalhado, como cabos partidos, pane no motor e um furacão que atingiu Lisboa...tem de tudo um pouco, onde até quem não é do mundo da Vela vai se identificar.
MB - Apesar da sua expedição ser em solitário, com certeza você tem um grande companheiro: o Eillen. Conta pra gente como foi essa escolha fundamental para qualquer comandante e, sobretudo nesse seu projeto de vida.
MF - O nome do barco significa "Reluzente", "Brilhante", e eu não o mudei, apesar de não ser uma pessoa supersticiosa....Acho o nome e o significado bonitos e foi ele que me encontrou. Foi o segundo barco que vi na minha busca e não consegui tirá-lo da cabeça. Em uma semana já estávamos juntos.
MB - Você está vindo velejar pela primeira vez na Regata Aratu-Maragojipe este ano. Com certeza, uma experiência bem diferente em seu diário de bordo. Como estão as expectativas em participar?
MF - Eu nunca naveguei na Bahia, então a minha expectativa é muito grande porque reúne grandes nomes da Vela. Eu vou estar a bordo com o Ricardo, da Magma Yachts e mais um pessoal que eu já ouvi dizer que é bastante profissional. Estou super feliz em estar aqui e participar do evento, além de poder compartilhar um pouco das minhas experiências pelo mundo com vocês. Com certeza, tenho planos para voltar à Bahia e, surgindo a oportunidade, estarei aqui.
MB - Um recado para o público baiano
MF - Essa terra é boa demais! Já vim para passar alguns carnavais, mas agora é diferente, porque posso navegar, compartilhar e absorver toda a história e cultura presentes na Bahia. Só tenho a agradecer.
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