Ao comemorar 519 anos, a Baía de Todos os Santos passa por momentos cruciais para seu desenvolvimento. Os projetos são muitos, as concretizações, poucas. Se por um lado a BTS conta com todos os recursos naturais para ser extremamente aproveitada, por outro, faltam ações para que toda esta riqueza seja repartida entre o povo que vive das suas águas.
Os ribeirinhos, as marisqueiras, os pescadores, os marinheiros, os mestres, os carpinteiros, os saveiristas, os artesãos... toda uma rede visível e invisível de protagonistas que passam despercebidos frente às vitrines de projetos cheios de futuro ou sonhos já esquecidos de muito outrora.
Se temos belezas submersas, selos com a Bandeira Azul e parques marinhos como o da Barra, falta saneamento, fiscalizações e abrem-se brechas para despejos industriais e construções irregulares em biomas cheios de vida marinha, do qual centenas de famílias tiram a sua subsistência.
Se são construídos atracadouros, rotas de turismo e museus do mar, também é precária a navegação e organização de terminais náuticos em pontos primários para o desenvolvimento do turismo dentro da própria Baía de Todos os Santos.
São complexas algumas questões, mas, por outro lado, muitas delas, carentes de boa vontade. Da Cidade Baixa à Cidade Alta, construções históricas seguem sem aproveitamento. O próprio Forte São Marcelo, berço da BTS, é um triste exemplo disto.
Todas as vezes que contemplo a BTS, penso em como somos herdeiros de um patrimônio que, de tão rico, o relegamos, porque achamos que tudo aquilo estará ali para sempre. Mas, não estarão. Vão-se os saveiros, vão-se as águas limpas, vão-se os que fazem, vão-se os grãos de nossa própria história – borrada por omissões, pretensões e devaneios.
Como donos de uma távola molhada como a Baía de Todos os Santos, talvez o que nos falte mesmo seja sermos verdadeiramente cavalheiros com a nossa abençoada Kirimurê, Capital da Amazônia Azul.
* Flávia Figueirêdo é jornalista e editora do site Mar Bahia
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