Após anunciar que estará de fora das Olimpíadas de Tóquio-2020, o bicampeão olímpico Robert Scheidt segue velejando em diferentes classes e não descarta, em breve, uma participação na Volvo Ocean Race. Em uma conversa com o Mar Bahia, Scheidt fala ainda sobre a formação de novos atletas no Brasil, família e, claro, sua relação com a Bahia. Confira.
MAR BAHIA - Faz tempo que você não desembarca na Bahia. Tem planos para voltar a navegar por aqui?
ROBERT SCHEIDT - As temporadas têm sido bastante corridas. Gosto muito da Bahia e do povo baiano e espero poder voltar ao estado em breve. Quem sabe poderei velejar pela costa baiana em breve.
MB - Em abril você comemorou 45 anos. Como avalia sua trajetória ao longo de tantos anos dedicados ao mar?
RS - Conquistei o meu primeiro título Mundial júnior, em 1991, na Escócia. Desde então, a vela é minha vida. Tive grandes conquistas e momentos inesquecíveis, especialmente os títulos mundiais e medalhas olímpicas. Tive vários momentos que me marcaram muito. Acho que o mais emocionante foi a conquista da segunda medalha de ouro, na Olimpíada de Atenas/2004, porque era uma medalha que estava "engasgada", por assim dizer, desde Sydney/2000. Também foi emocionante ter sido escolhido porta-bandeira na Olimpíada de Pequim/2008. Ali foi uma emoção diferente, de representar o País, mesmo. Duas derrotas que marcaram, mas que foram minhas excelentes professoras, foi na Olimpíada de Sydney em 2000, e no Mundial de Cadiz, na Espanha, em 2003, em ambas eu fui vice, mas fui campeão pelo aprendizado.
MB - Você vive uma nova fase em sua carreira, se dividindo entre a classe e a Vela Oceânica. O que o motivou a fazer estas escolhas?
RS - Meu instinto competitivo ainda é muito forte e o esporte está no meu sangue. Por isso seguirei velejando em diferentes classes. Sempre recebi convites para competições de vela oceânica e sempre disse não, em função dos projetos olímpicos. Agora poderei dizer sim. E continuarei na classe Star, agora mais intensamente em 2018, pois preciso da adrenalina dos monotipos.
MB - Depois de Torben, Martine Grael também desponta como um grande destaque na Volvo Ocean Race. Você tem planos de participar da competição?
RS - Desde que encerrei minha carreira como atleta olímpico, deixo as portas abertas para todas as possibilidades e uma competição do nível da Volvo Ocean Race, certamente, é uma delas.
MB - Laser, Star, 49er, Vela Oceânica... Existe uma classe que desperte maior adrenalina em você?
RS - Na verdade, na vela quem te escolhe é a classe, não o contrário, pois depende do seu biotipo, e o meu era perfeito para a Classe Laser. Mas a minha paixão é a Star.
MB - A sua “aposentadoria” das olimpíadas frustrou um pouco os brasileiros que tinham esperanças na conquista de mais uma medalha olímpica na Vela. O que o levou a tomar esta decisão?
RS - Não é fácil começar do zero, aos 43 anos, em uma categoria que exige muito do físico, como a 49er. Sofri com algumas lesões na temporada passada e o período de recuperação não é mais o mesmo. Eu precisaria de muito mais tempo de treino para chegar competitivo em 2020 e, nessa altura da vida, não quero abrir mão da família. Certamente terei saudades. A coisa mais linda que existe é defender seu país, ainda mais nos Jogos Olímpicos. Sei que vou sentir falta de acordar todo dia com aquele objetivo de ganhar uma medalha, pois a Olimpíada é como uma montanha que você escala um pouco a cada dia, até chegar ao topo. Mas seguirei no esporte, tive uma carreira a qual fiz sempre o máximo que podia e não me arrependo de nada. Foram seis olimpíadas, cinco medalhas e muito orgulho por ter defendido o Brasil.
MB – A Vela ainda é estigmatizada como um esporte de elite e de difícil apelo para o grande público. Como você enxerga o desenvolvimento da formação de novos atletas no Brasil?
RS - O apoio ao esporte melhorou muito desde que comecei minha jornada olímpica, em 1996. Claro que ainda dá para melhorar, usando o exemplo das grandes potências como Grã-Bretanha e Estados Unidos. Mas o COB, além de empresas patrocinadoras e programas de incentivo ao esporte, estão proporcionando algo jamais visto pelos atletas brasileiros em termos de preparação. Hoje temos técnicos, médicos, fisioterapeutas, e toda a logística necessária para a alta performance. Tudo isso tende a favorecer as novas gerações.
MB - Você expressou sua vontade em ajudar nesse processo de fomento de novas gerações na Vela brasileira ainda este ano. Como anda este projeto?
RS - Pretendo iniciar clínicas para passar um pouco da minha experiência e conhecimento para a garotada. Apresentei essa ideia para o Banco do Brasil, meu patrocinador, e ela foi muito bem recebida. Já atuei como conselheiro de jovens atletas de alto rendimento e foi muito bacana. Tratamos de pressão e como encarar grandes competições e o retorno que recebi foi altamente positivo.
MB - Seus filhos já começaram a se interessar pelo mar?
RS - Tenho dois filhos pequenos, minhas maiores medalhas. O Erik, de oito anos, já tem velejado comigo, gosta bastante e leva jeito. Mas eu e a Gintare, minha mulher, vamos deixar as coisas acontecerem naturalmente, sem forçar nada. Tanto ele, quanto o Lukas, de quatro anos, terão liberdade para fazer suas escolhas.
MB - Você é casado com uma velejadora e respira o mar na maior parte do seu tempo. Fora desse ambiente, o que gosta de fazer?
RS - Sou um cara normal, gosto do meu trabalho, da rotina e amo a minha vida de casado e pai de dois filhos. E é justamente isso que adoro fazer quando não estou treinando ou competindo, passar o maior tempo possível com minha mulher e meus filhos.
MB - Existe algum lugar do mar da Bahia que você deseje conhecer ou voltar?
RS - O litoral baiano é muito bonito e velejar em qualquer parte da costa nordestina é sempre um privilégio.
Fotos: Carlo Borlenghi/ Pedro Martinez / Sailing Energy / ISAF
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